quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Minhas propostas que podem te ajudar a pensar a tua proposta de solução na redação do Enem (copia o link)

Todas as propostas abaixo são de minha autoria e decidi colocá-las aqui para que você possa se situar quanto às tendências de temática da redação. São propostas construídas em diálogo com a população da minha cidade, Roteiro, AL, e com algumas pessoas de outras localidades. Elas foram produzidas, também, baseadas em questões nacionais. Quero chamar sua atenção para o fato de que essas propostas foram entregues ao governo federal, então, elas foram feitas para convencer o governo, assim como a sua redação precisará convencê-lo, de alguma forma, sobre a pertinência da sua proposta de solução para o problema apresentado.


● Etapa Digital (4ª Conferência Nacional de Juventude, Plataforma Brasil Participativo)

1 - MEC criar Sistema Nacional de vagas de estágio para Institutos Federais

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12268

2 - MEC criar Sistema Nacional de Estágios nas Escolas para estudantes de psicologia

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12269

3 - Força-Tarefa Nacional para modernização das linhas elétricas dos municípios: chega de queimar nossos eletrodomésticos!

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12290

4 - Psicólogas (os) no Planejamento da Segurança Pública Brasileira (obrigatoriamente)

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12292

5 - Criação de Grupos de Guardiões da Cultura nos Institutos Federais 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12298

6 - Força-Tarefa para Criação de Lojas Públicas de Cultura em cada região turística

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12293

7 - MEC criar Sistema Nacional de Estágios nas Escolas para estudantes de Serviço Social

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12307

8 - Força-Tarefa Nacional pelo resgate da cultura afro-brasileira 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12312

9 - Incluir a Gastronomia Indígena no Currículo Obrigatório dos Cursos de Nutrição, Gastronomia e afins

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12313

10 - Força-Tarefa Nacional pelo resgate da cultura indígena no Brasil

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12311

11 - Incluir a Gastronomia Afro-Brasileira no Currículo Obrigatório dos Cursos de Nutrição, Gastronomia e afins 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12314

12 - Força-Tarefa Nacional pelo Preço Baixo (Procon's nas cidades pequenas)

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12315

13 - Criar Torneio de Municípios Virtuais em Jogos de Mundo Aberto (Minecraft, GTA etc.)

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/11791

14 - Criar Torneio Nacional de Canoas Artesanais

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12340

15 - Mapeamento e fortalecimento de iniciativas municipais de aulas de música 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12342

16 - Mapeamento e apoio a professoras (es) voluntários de música 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12343

17 - Criar o Prêmio Nacional da Separação Correta do Lixo (restaurantes privados)

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12345

18 - Criar o Prêmio Nacional da Separação Correta do Lixo (escolas brasileiras)

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12346

19 - Criar o Prêmio Nacional da Separação Correta do Lixo (órgãos públicos)

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12347

20 - Criar o Prêmio Nacional da Separação Correta do Lixo (prefeituras)

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12348

21 - Mapeamento e Apoio Permanente aos Mutirões de Limpeza das Cidades (organizados por prefeituras, ONG's e associações)

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12351

22 - Criar o Prêmio Nacional de Mutirões de Limpeza das Cidades

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12353

23 - Criar o Prêmio Nacional da Limpeza Urbana para estratégias da população 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12354

24 - Mapeamento e apoio a iniciativas municipais de Alfabetização de Idosos

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12438

25 - Mapeamento e apoio a jovens alfabetizadores voluntários 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12439

26 - Criar Aplicativo de Previsão de Violência nas Escolas (semelhante ao X-Law)

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12440

27 - Parceria com Empresas e Entidades para Reforço da Alimentação nas Escolas

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12442

28 - Doação de ônibus a prefeituras para transporte de universitários 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12519

29 - Criar o Fundo Nacional do Transporte Universitário

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12523

30 - Força-Tarefa Nacional pela Arborização dos Municípios 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12531

31 - Acesso ao Crédito para Primeiro Consultório a Psicólogas (os) Recém-Formadas (os)

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12545

32 - Ampliação do Voa Brasil a jovens de baixa renda

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12552

33 - Mapeamento e apoio a iniciativas municipais de alimentação de animais em situação de rua 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12560

34 - Mapeamento e apoio a iniciativas de alimentação de animais de rua por parte de cidadãos 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12562

35 - Mapeamento e apoio a iniciativas de ONG's para alimentação de animais de rua

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12563

36 - Mapeamento e Contratação Temporária de Consultórios Locais de Psicologia para Diminuir o Déficit de Psicólogas (os) em Cidades Pequenas 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12565

37 - Moradia para jovens que moram sozinhos

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12567

38 - Criar Programa Nacional de Adoção de Animais Resgatados da Rua

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12586

39 - Criar a Programação Nacional de Esportes e Lazer de Verão 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12588

40 - Programação Nacional para o Esporte e Lazer no Outono

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12590

41 - Programação Nacional de Esporte e Lazer no Inverno

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12591

42 - Programação Nacional de Esporte e Lazer na Primavera

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12593

43 - Ingredientes saudáveis mais baratos para empreendedores da alimentação 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12671

44 - Ensino da Alimentação Saudável nas Escolas Brasileiras 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12672

45 - Educação Financeira nas Escolas 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12673

46 - Aulas Práticas de Matemática nas Escolas

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12674

47 - Aulas Práticas de Física e Química nas escolas

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12675

48 - Aulas Práticas de Língua Portuguesa nas Escolas

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12676

49 - Aulas Práticas de Geografia nas Escolas

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12677

50 - Aulas Práticas de História nas Escolas

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12678

51 - Aulas Práticas de Artes nas Escolas 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12679

52 - Orientação Profissional Obrigatória nas Escolas de Ensino Médio 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12680

53 - Estímulo à Criação de Frentes Parlamentares Municipais contra o Trabalho Escravo

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12685

54 - Força-Tarefa Nacional pela Criação de Conselhos Municipais de Segurança Pública 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12686

55 - Estimular Criação de Leis Municipais que Garantam Transporte a Pessoas que Moram em Locais de Ladeiras

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12688

56 - Força-Tarefa Nacional pelo Resgate da História dos Municípios 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12689

57 - Campanha Nacional Lixo na Rua Não 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12708

58 - Regulamentação da Profissão de Gamer 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12709

59 - Acesso a Financiamento de Equipamentos a Gamer's Iniciantes e de Baixa Renda

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12710

60 - Acesso a Financiamento de Equipamentos a Gamer's que Busquem Ampliar seu Trabalho 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12711

61 - Ampliação do Patrocínio a Grandes Eventos Gamer's do Brasil

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12712

62 - Patrocínio a Pequenos Eventos Gamer's do Brasil 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12713

63 - Financiamento de Equipamentos a Desenhistas Iniciantes de Baixa Renda

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12714

64 - Financiamento de Equipamentos a Desenhistas Profissionais 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12715

65 - Patrocínio a Grandes Eventos Brasileiros de Desenhistas 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12716

66 - Patrocínio a Pequenos Eventos Brasileiros de Desenhistas 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12717

67 - Mapeamento Nacional e Proteção de Aquíferos e Nascentes contra Agrotóxicos 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12732

68 - Mapeamento Nacional e Proteção de Reservas Naturais contra Agrotóxicos 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12733

69 - Mapeamento Nacional e Proteção de Biomas contra Agrotóxicos 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12734

70 - Campanha Nacional de Incentivo à Psicoterapia como Prevenção 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12760

71 - Campanha Nacional pelo Incentivo à Redução do Uso de Medicamentos Psiquiátricos 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12762

72 - Campanha Nacional pelo Uso de Capacetes em Motocicletas

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12763

73 - Programa Mais Psicólogos

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12764

74 - Criar um Cadastro-Reserva de Psicólogas (os) para Situações de Emergência 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12765

75 - Entrega de Materiais de Trabalho para Jovens Pedreiros 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12788

76 - Entrega de Materiais de Trabalho para Recém-Formados do SENAI

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12789

77 - Entrega de Materiais de Trabalho para Recém-Formados do SENAR

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12790

78 - Força-Tarefa Nacional pela Criação de Conselhos Municipais de Trânsito 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12818

79 - Criar um "Banco de Dias" para Quem Pagar as Faturas Antes do Vencimento 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12819

80 - Lei que Garanta um "Banco de Dias" a Quem Pagar Faturas Antes do Vencimento 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12820

81 - Apoio Técnico a Câmaras Municipais na Modernização de Ouvidorias

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12831

82 - Financiamento de Equipamentos a Podcaster's Iniciantes

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12833

83 - Patrocínio a Podcast's que Promovam a Participação Social na Política 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12834

84 - Mapeamento e Apoio a Estratégias Municipais de Educação Financeira

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12959

85 - Mapeamento e Apoio a Estratégias de Educação Financeira por Voluntários

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12960

86 - Incentivar Iniciativas Policiais de Prevenção a Golpes Contra Vulneráveis

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/12961

87 - Mapeamento e Apoio a Iniciativas Municipais de Ensino Sobre o Orçamento Público

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13179

88 - Mapeamento e Apoio a Iniciativas de Ensino Sobre o Orçamento Público por Iniciativa de Cidadãos e ONG's

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13188

89 - Encaminhar Alimentos Excedentes de Bares e Restaurantes a Cozinhas Solidárias 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13189

90 - Encaminhar Alimentos Excedentes de Restaurantes e Bares a Restaurantes Universitários 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13190

91 - Encaminhar Alimentos Excedentes de Restaurantes e Bares a Restaurantes Populares

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13191

92 - Encaminhar Alimentos Excedentes de Supermercados a Cozinhas Solidárias 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13193

93 - Encaminhar Alimentos Excedentes de Supermercados a Restaurantes Universitários 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13194

94 - Base de Dados Nacional sobre Chuvas

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13244

95 - Estudo da Chuva e da Estiagem como Prioridade nos Financiamentos do CNPQ

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13246

96 - Mapeamento Atualizado do Comportamento das Chuvas Previsto para o Bioma Mata Atlântica

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13247

97 - Mapeamento Atualizado do Comportamento das Chuvas Previsto para o Bioma Amazônia

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13249

98 - Mapeamento Atualizado do Comportamento das Chuvas Previsto para o Bioma Caatinga

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13251

99 - Mapeamento Atualizado do Comportamento das Chuvas Previsto para o Bioma Cerrado

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13252

100 - Mapeamento Atualizado do Comportamento das Chuvas Previsto para o Bioma Pampa

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13254

101 - Mapeamento Atualizado do Comportamento das Chuvas Previsto para o Bioma Pantanal

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13256

102 - Fome Zero Animal 

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/assemblies/confjuv4/f/10/proposals/13257

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Apagão e psicanálise

Transição energética, Pré-sal, matriz energética, hidrogênio verde, carros elétricos, energia de biogás, termelétricas, bandeira vermelha... São tantos termos para tratar de uma questão que nos excita sobremaneira, seja por um lado ou por outro: a matriz energética do Brasil. A questão da energia limpa e renovável nos provoca os nervos tanto quanto a questão da energia proveniente do petróleo ⛽️. Se você é ambientalista radical, talvez será tentado a se opor a todo tipo de nova exploração de poços de petróleo, o que, para outros, seria razão de muita comemoração e esperança. 

O Brasil será autossuficiente em petróleo! Há 17 anos, muito se repetiu essa frase nos jornais, nas rodas de conversa, nas salas de aula. A descoberta do Pré-sal aglutinou promessas de soberania nacional, investimentos em educação, pleno emprego e quilômetros, muitos quilômetros de passeios em família, tendo em vista o barateamento da gasolina, do diesel e, em consequência, o barateamento de todos os itens de consumo - do lanche ao suvenir. 

A questão da energia mexe muito com a gente. Todos nós testemunhamos a confusão que deu o apagão do último dia 15 de agosto. Milhões de estabelecimentos comerciais prejudicados: imagens de um pequeno empresário agoniado, tentando salvar a validade das carnes de seu freezer. Esse registro, em específico, me foi marcante; foi marcante porque me fez pensar: "no fim das contas, tudo na nossa vida é uma questão energética - nos motores, nas câmaras de resfriamento, nas linhas de transmissão, nas camadas do Pré-sal... no nosso estômago". A mais alta engenharia de petróleo ou a mais refinada linha de pesquisa em energias renováveis apontam para algo básico, basilar, "aquela que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra" - a morte, como diria Chicó. Sem energia elétrica, não há conservação do elemento básico para nossa sobrevivência, que é o alimento. Sem ela, não poderíamos manter as atuais taxas de expectativa de vida. Sem a energia dos combustíveis, não haveria ambulância 🚑, não haveria "escoamento de produção" para os itens que movimentam nosso comércio, nossas trocas materiais, químicas, simbólicas, psíquicas.

Tudo, no final das contas, é uma questão de energia; inclusive, a nossa mente. 

A noção de "pulsão" que Freud nos trouxe segue aplicável a nossa realidade, mais de 100 anos depois da criação da psicanálise. "Tudo é bost*!", resumia a vida o meu tio-avô Zé do Carmo, que já encontrou-se com seu "carma", o "único mal irremediável", parafraseando, novamente, Chicó.

Há sabedoria na ofensiva frase do tio Zé do Carmo. Há sabedoria porque, no final das contas, "tudo é bost*", mesmo. O alimento vegetal que nos garante os nutrientes essenciais à sobrevivência é produzido em solos enriquecidos com matéria orgânica - para ser mais claro, esterco bovino, titica de galinha, folhas podres etc. Sem falar das repugnantes hortas ecológicas caseiras regadas a urina e fertilizadas com esterco humano - ou, para ser mais honesto com a sabedoria do tio Zé do Carmo, fertilizadas com bost*.

A proteína animal que nos alimenta é fruto da quase perfeita conversão do alimento em energia, que alimenta as células dos bois, porcos, frangos e outros animais que assassinamos diariamente. Essa conversão é operada pelo sistema digestivo, que também produz, concomitantemente, esterco. 

A existência material, simbólica, psíquica do animal humano depende da interação entre os mundos orgânico e psíquico. Há um equilíbrio desequilibrado, uma vez que a principal causa do desequilíbrio existencial humano é, exatamente, essa interação problemática entre os dois mundos.

A noção freudiana de "pulsão" une o orgânico e o psíquico, isso porque a pulsão seria o ponto limítrofe, seria a fronteira entre o orgânico e o psíquico, seria o ponto de transição de uma realidade para outra, a ponte de comunicação entre a realidade psíquica e a realidade objetiva. A ideia de pulsão é, antes de tudo, uma noção de "energia", e isso está claro na rede de significações que se pode atribuir ao termo "pulsão" - propulsão, moção, pulsação etc. A pulsão seria a energia fundamental que permitiu que o corpo humano passasse de uma relação primária com o mundo externo para uma relação mediada pela palavra, pela linguagem; por isso mesmo, uma relação sofisticada e, ao mesmo tempo, problemática, incompatível, embora simbiótica. É, mais ou menos, como tem acontecido com a Inteligência Artificial, que só pode ser chamada de inteligência porque foi afetada pela linguagem. O corpo robótico ganha vida, ganha capacidade de se comunicar com corpos humanos e com outros corpos robóticos, ganha capacidade de cometer erros, como nós cometemos no trânsito e como veículos da Tesla cometem, vez ou outra.

Nós, dificilmente, vemos a energia elétrica, jamais vemos a energia química que garante nosso pensamento, nosso movimento. Dificilmente, vemos a energia do carro, do ônibus ou avião que nos levou ao trabalho ou à visita de um parente. Contudo, a importância da energia é inegável e, sem ela, tudo entra em colapso, tudo se imobiliza.

O que diremos, então, da energia psíquica, esse emaranhado de invisíveis fios de alta tensão não sinalizados? O que diremos do trabalho dos e das psicanalistas, esses eletricistas, eletrotécnicos e engenheiros da energia psíquica? 

É um trabalho duro, complexo, pouco reconhecido e, frequentemente, de remuneração inferior a todas as profissões de energia do país. Não existe risco de apagão da energia psíquica no Brasil, mas existe o risco de um colapso, de um curto-circuito num curto prazo. Há risco de novas crises coletivas de ansiedade, mais intensas do que as crises que já vivemos diariamente, sozinhos e em grupos.

Por Samuel Melo 


Samuel Melo é um psicólogo e psicanalista lacaniano que mora, atualmente, na cidade de Roteiro, AL.

Instagram: @samuelmeloal

WhatsApp: 55 82 9 8810-7158

Anderson Samuel da Silva Melo - CRP 15/6004


Imagem: www.mundoconectado.com.br




domingo, 20 de março de 2022

Economia com psicanálise é possível? Carta-relatório a amigos de México e Uruguai (2020)

    A cidade de Roteiro está localizada no litoral sul do estado de Alagoas, a 50 quilômetros da capital, Maceió, no Nordeste do Brasil. O pequeno município tem aproximadamente 6.650 habitantes (BRASIL, 2020) e uma área total de 128,926 km2. Abrir um consultório particular de psicanálise em Roteiro e torna-lo uma atividade rentável e lucrativa é, sem dúvida, um grande desafio. No município, atualmente, qualquer psicanalista da iniciativa privada irá esbarrar com algumas grandes dificuldades de natureza econômica. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, em 2018, ano em que foi feito o último levantamento sobre trabalho e renda dessa população, o percentual de pessoas ocupadas com alguma atividade remunerada era de apenas 10,5%, ao passo que 50,1% da população tinha renda média mensal de até meio salário mínimo (BRASIL, 2020), isto é, 522,50 reais ou 97,67 dólares (BRASIL, 2020), o que ilustra a condição econômica precária da população do município e poderia advertir que na cidade há poucas pessoas capazes de manterem honorários próximos da média que se apresenta em outras localidades, como a capital Maceió.

    Além dessas dificuldades em si alarmantes, o psicanalista que se proponha abrir um consultório na cidade costeira ver-se-á também diante de barreiras de ordem subjetiva, que, na verdade, refletem a realidade da maioria dos iniciantes nessa profissão, como o seu grau de reconhecimento diante de seu público-alvo e de seus colegas e mesmo o grau de reconhecimento da própria psicanálise perante a sociedade, além dos processos inconscientes de resistência ao tratamento por parte das pessoas atendidas, mesmo aquelas que acreditam firmemente no tratamento. É antiga a busca de espaço da psicanálise diante das barreiras impostas por outros paradigmas psicológicos e tipos de psicoterapia mais afeitas a certo pragmatismo localizacionista, que se instrumentalizam com inúmeros artifícios materiais, como os medicamentos psiquiátricos e os testes psicológicos, ao passo que a psicanálise resume seu escopo e seu material de trabalho à palavra, isto é, à fala do analisante e à intervenção oral do próprio analista. Como o leitor certamente percebe, ambas dificuldades, as objetivas e as subjetivas, irão ditar o fluxo de pessoas no consultório do analista e também o seu fluxo de caixa.

    Diante desses entraves, pode-se considerar inviável estabelecer um consultório particular de psicanálise em Roteiro? Bom, se formos considerar apenas os números oficiais, a viabilidade se dificulta. Mas estamos aqui falando de psicanálise, essa prática clínica cuja marca característica é certa marginalidade em relação a todo e qualquer discurso oficial. Por isso, o psicanalista não costuma recuar diante das adversidades, nem tampouco se satisfaz com aquilo que qualquer instituição especializada em dados estatísticos diz sobre as populações, pois entende que elas jamais chegarão a um número absoluto, que dê conta de todas as particularidades de um público qualquer. Assim, ele vai até à população lhe ouvir, vai se inserir em determinada região para sentir de perto as dificuldades e localizar as oportunidades, ainda que esse movimento também não vá possibilitar a apreensão perfeita e completa da realidade de um estrato populacional qualquer, pois nem a psicanálise nem qualquer esforço humano é capaz de apreender o Real (FORBES & RIOLFI, 2014), essa instância que alguns filósofos chamam “a coisa em si”, sem nome ou representação numérica, livre de todo viés subjetivo do olhar humano. Com efeito, qualquer avaliação humana de um evento, de uma população etc. está fadado a não passar, no fim das contas, de uma opinião, mesmo que haja algum tipo de consenso em tono dela. A própria condição imposta pela ciência de que qualquer ideia ou teoria seja refutável atesta isso.

     Aliás, é necessário observarmos que a figura do psicanalista, de um modo geral, aquele que possui formação e opera a psicanálise, não pode se confundir com a figura do psicanalista x ou y em específico, dotado de suas particularidades e história pessoal. Por isso, é preciso observar que o modus operandi ao qual me refiro neste post reflete o meu fazer clínico particular – o meu modo de fazer clínica, eu, Samuel Melo – e também se refere ao caso específico da cidade em questão e da minha relação particular com ela e com sua população. É importante não esquecer que a prática da psicanálise, como qualquer profissão, é inevitavelmente atravessada pela singularidade do profissional e não pode ser analisada fora de seu contexto.

    A minha história pessoal e minha formação influenciam grandemente meu “olhar empreendedor”. Antes de me formar em psicologia, ao longo do curso de técnico em biocombustíveis, eu percebi a importância econômica e ambiental de se reciclar os materiais, reaproveita-los e reduzir a produção de resíduos sem utilidade e que sejam danosos ao meio ambiente. Esse aprendizado em grande medida se reflete no meu dia-a-dia de consultório quando busco trabalhar com uma lógica que costumo chamar de “logística reversa aplicada à psicanálise”. O que seria isso? Bom, trata-se de buscar sempre estar atento aos restos, ao que sobra de uma determinada interação, tal como a relação de consumo entre uma empresa e um cliente, que produz vários “restos”, sendo um deles o resíduo sólido. É preciso dar uma destinação correta e, na medida do possível, lucrativa, para esse resíduo; e acredito que isso também seja válido para a psicanálise no seu estudo das relações humanas e seus processos subjacentes.

    No dia-a-dia do meu consultório eu costumo receber um público específico trazido a mim por uma demanda que eu chamo de “resto de outras clínicas” (esteja claro que assim chamo o tipo de demanda, não as pessoas!). São sujeitos que, para tratarem seu sofrimento psíquico, recorreram antes de mim a diversas formas de psicoterapia e intervenções clínicas que têm uma visão muito limitada do acontecimento psíquico, uma vez que ignoram os “resíduos psíquicos” que extrapolam os processos da consciência, isto é, não atentam para aqueles processos de natureza inconsciente que a psicanálise observa muito bem, como a “pulsão de morte”, energia psíquica que lança por terra qualquer argumento que defenda a existência de uma plena tendência à autoconservação no humano. Quando numa sessão de análise eu observo que o sujeito que atendo em algum momento se vê arrebatado por impulsos autodestrutivos inerentes ao psiquismo humano, eu estou reconhecendo a existência de algo que resta, que sobra como um excesso indesejado à consciência; estou reconhecendo a coexistência de uma pulsão de morte e de uma pulsão de vida, uma ambivalência que a psicanálise considera natural, tal como é absolutamente natural que uma porção de biscoitos (produto desejado) e sua embalagem plástica (produto indesejado) coexistam e formem um “todo”, que é o “pacote de biscoitos”. Algumas empresas irão fazer a Logística Reversa desse indesejado e inevitável pacote plástico, outras não; o psicanalista representa essa empresa que o faz!

    Assim como para o célebre químico francês Antoine-Laurent de Lavoisier “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, para a psicanálise é necessário dar um tratamento, uma destinação a todos os conteúdos que se tornam visíveis a partir da fala do sujeito, pois é justamente o mecanismo do recalque, a rejeição desses conteúdos, que caracteriza o adoecimento psíquico, na medida em que eles retornam inevitavelmente na forma de sintoma neurótico ou delírio e alucinação psicóticos, tal como poeira escondida debaixo do tapete (FREUD, 2019). A psicanálise entende que é preciso fazer algo também com esses impulsos de morte, algo como um desvio de curso de um rio que transbordou e está na iminência de inundar uma cidade. Negar a existência de processos e conteúdos que contrariem a ordem e a organização da consciência, como algumas intervenções clínicas fazem, não vai ajudar na resolução do problema da pessoa em sofrimento, pois é preciso reciclar, reaproveitar esse excesso e não amontoá-lo em lixões.

    O que primeiramente me impulsionou a iniciar os atendimentos em Roteiro foi o relato de minha mãe, residente na cidade e pastora evangélica, de que muitos membros de sua igreja estavam fazendo uso de medicamentos psicoativos, receitados por psiquiatras da rede pública de saúde do município, e de que não estavam encontrando espaço de fala, por uma série de razões que as impediam de chegar até o serviço psicológico público, o que levava essas pessoas a buscarem outros espaços de escuta que não os consultórios de psicologia das Unidades Básicas de Saúde da cidade, sendo o gabinete da pastora um dos destinos desses cidadãos. Foi aí que percebi que em Roteiro os resíduos psíquicos de grande parte da população não estavam recebendo a devida atenção; não se estava fazendo a Logística Reversa dos processos inconscientes de muitas pessoas dali e, movido ao mesmo tempo por um ideal humanitário inerente à psicanálise (DANTO, 2019) e por uma visão de crescimento material e profissional, decidi ofertar atendimento psicanalítico privado a essa população, tal como uma empresa especializada em gestão de resíduos, que se anima tanto pelo lucro de sua atividade quanto pelo impacto ambiental positivo que irá causar. Assim, a minha oferta de atendimento psicanalítico em Roteiro se deu, em grande medida, em virtude do que restou da relação entre a população e a rede pública de saúde. Novamente, meu trabalho surgiu na cidade como último recurso de algumas pessoas que antes recorreram aos medicamentos psiquiátricos e, desse modo, meu público-alvo continua a ser trazido a mim pela via da demanda que chamei anteriormente de “resto de outras clínicas”.

    Apesar de ainda muito recente para possibilitar uma análise aprofundada de lucratividade, essa intervenção tem se mostrado, desde o início de outubro deste ano (2020), economicamente viável, uma vez que consegui superar suas três principais dificuldades: 1) meu reconhecimento diante do público-alvo; 2) o baixo poder de compra da população e; 3) a disposição de espaço adequado aos atendimentos. Consegui galgar o primeiro entrave fazendo uso da minha fama na cidade, uma vez que sou conhecido pela organização de alguns movimentos sociais de literatura e de arrecadação de donativos em situações de emergência, além de ter residido no município e trabalhado como vendedor de sorvetes, o que me colocou em contato direto com as pessoas durante alguns anos. Além disso, sou filho de uma pastora evangélica proeminente do município, o que me coloca também em posição de destaque na localidade. Assim, bastou me articular com minha mãe para informar a comunidade acerca da oferta de serviço psicanalítico privado para que logo surgissem os primeiros interessados. O segundo obstáculo, a baixa renda da população, consegui transpor através de uma forma alternativa de pagamento – me dispus a receber das pessoas da cidade aquilo que elas pudessem pagar, fosse uma quantidade em dinheiro, fosse algum serviço ou produto, o que significou na prática ora razoáveis valores em dinheiro, ora valores baixos, produtos da terra, como bananas, cacau, mamão, macaxeira, peixes, frutos do mar etc. que, no fim das contas, têm me proporcionado uma rentabilidade financeira acima do ponto de cobertura. Consegui, inicialmente, dois espaços de atendimento na cidade de forma gratuita, cedidos pela igreja de minha mãe, o que extinguiu a terceira dificuldade da intervenção, ou seja, aquela relacionada ao espaço para realização das sessões. Depois da primeira semana de serviço, cheguei à conclusão de que o atendimento virtual, por chamada de voz ou de vídeo, é possível para essa população e, ao mesmo tempo, é logística e sanitariamente mais viável no atual momento, já que assim passo a não ter os custos da viagem de Maceió até à cidade e já que esse tipo de atendimento garante segurança diante da pandemia da Covid-19.

    O consultório de psicanálise é uma empresa de um ramo extremamente arriscado, o da “economia psíquica”. A presença do analisante nas sessões é uma variável que está constantemente à deriva, sendo influenciada por fatores de ordem consciente e inconsciente, bem como econômicas e sociais. O sucesso experimentado até agora pelo estabelecimento de meu consultório virtual em Roteiro não está e não estará jamais absolutamente garantido, justamente pela indeterminação que marca essa prática profissional que toca o mercado das ações do psiquismo humano, tão ambivalente quanto interessante de se estudar. Contudo, tenho conseguido garantir atendimento psicanalítico a essa população que até então não dispunha de clínica particular. O trabalho segue em frente!

Referências

BRASIL. Banco Central do Brasil. [acesso em 27 de novembro de 2020]. Disponível em https://www.bcb.gov.br/

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades e Estados. [acesso em 27 de novembro de 2020]. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/al/roteiro/panorama

DANTO, Elizabeth Ann. (2019). As clínicas públicas de Freud: psicanálise e justiça social, 1918-1938. Tradução de Margarida Goldsztajn. São Paulo, SP: Editora Perspectiva. (Coleção Estudos).

FORBES, Jorge; RIOLFI, Claudia. (2014). Psicanálise: a clínica do Real. Barueri, SP: Editora Manole.

FREUD, Sigmund. (2019). Neurose, psicose, perversão. Tradução de Maria Rita Salzano Moraes. Belo Horizonte, MG: Autêntica Editora. (Obras Incompletas de Sigmund Freud).


domingo, 16 de janeiro de 2022

A lenda d'O Eu vi - Lendas de Roteiro

    Nos últimos meses, eu venho organizando em Roteiro (AL) uma coletânea de lendas urbanas de terror, como parte de uma estratégia de resgate das raízes culturais do município, para o qual estou retornando, depois de 8 anos estudando e trabalhando em Maceió. Trata-se de uma ação do Projeto Deuscrever, fundado por mim em 2015 e hoje atuante como facilitador da formação cidadã e intelectual de roteirenses em diferentes idades. Dentre as dezenas de contos coletados e registrados, em inúmeras conversas com moradores da cidade, uma lenda se destacou para mim, por sua abrangente possibilidade de me suscitar reflexões, além dos inusitados acontecimentos reais em torno dele. Trata-se do conto chamado pelas autoras de "O 'Eu vi'". Vou narrar o conto pra você:

O "Eu vi"

    Cinco amigas estavam fazendo uma festa do pijama, em uma casa alugada, de aparência sombria, com a pintura gasta da chuva, na rua do Ginásio. Duas das mais velhas se dispuseram a preparar um lanche noturno, enquanto as mais novas ficaram jogando Uno na sala. Uma das meninas que foram cozinhar de repente sentiu vontade de se juntar às mais novas para jogar, deixando a outra sozinha no preparo do lanche. Passados alguns minutos, a menina que estava sozinha apareceu repentinamente diante da cortina vermelha que separava a sala da cozinha. Ela estava pálida e tremendo, quase sem voz, falando:  - eu vi!

    Após algum tempo, as amigas conseguiram acalma-la, e então perguntaram: - o que você viu? Mas ela simplesmente não sabia descrever, apenas repetia: - eu vi.
Até hoje, a menina não consegue falar sobre o que viu e evita o assunto a todo custo. Ela, inclusive, se mudou para Satuba depois desse acontecimento.

Autoras: Léia Melo, Joyce Cristine e Jaqueline Texeira
Revisão: Samuel Melo
_____

    Independente do que o conto seja capaz de despertar em você, leitora ou leitor, um acontecimento curioso nos chamou a atenção recentemente. Eu estava em Maceió, como de costume, quando recebi no WhatsApp uma mensagem da Léia, uma das autoras e minha irmã. Ela dizia: "Roubaram a nossa lendaaaaaa". 

    A mensagem trazia a capa do lançamento da Netflix: "Eu vi", uma produção dentro da literatura de terror ou, do ponto de vista psicanalítico, literatura do Infamiliar. Ficamos chocados, mas, mesmo assim, não acionamos nossos advogados, porque não os temos (😓).
Como assim? Existe um arquétipo do "eu vi"? Ou alguém "nos ouviu"?

    Calma! Ainda não há razão, me parece, para falar que existe um "arquétipo do 'eu vi'". Jung não precisará ressuscitar para dizer: "- eu vi!" Quer dizer, 😅 ele não virá para dizer: "- tá vendo? Eu falei!"

    Estaremos seguros dentro da seara da psicanálise lacaniana. Isso porque se há algo universal na atividade psíquica humana, é a sua inabilidade em falar, inscrever e descrever o Real - esse que é, segundo a psicanálise lacaniana, o campo que congrega tudo aquilo que a razão humana não consegue entender e explicar.

    É ao Real que a expressão "eu vi!", nesse contexto, me remete. Isso porque ela me lembra das limitações do simbolismo humano de significar o inefável, o indizível da morte, por exemplo, que está na superfície de todo e qualquer conto e literatura de terror. Esses contos expressam a angústia subjacente nas inúmeras tentativas da psique humana de entender, categorizar, nomear esse inevitável e temido evento, o qual nosso inconsciente jamais aceitou como possibilidade. Ele, esse antiquísimo selvagem que nos habita, movido pelo mais absoluto animismo, regido pela intuição mais do que pela razão; ele, o inconsciente, com seus fantasmas e suas bruxas, jamais foi capaz de compreender, explicar ou admitir a morte como parte invencível de sua experiência.

    Para além da morte enquanto experiência pura, enquanto efeito, podemos pensar no caminho até à morte. Como aquela busca desesperada por reconforto, por explicações, que é visível quando buscamos o atestado de óbito de um parente, a fim de sabermos qual foi a "causa da morte". Ou quando buscamos "justiça" à nossa família, no momento em que algum dos nossos é ceifado pela maldade de um assassino ou pela imprudência de um motorista bêbado. O atestado e a "justiça" não nos explicam o que é a morte do nosso parente, mas nos fortalecem simbolicamente com o principal alimento humano, a "sopa de letrinhas", as palavras, que nos ajudam a significar, a "explicar" o caminho até à morte. Aliás, não admira que isso baste para trazer algum conforto, porque é exatamente nesse ponto que nós estamos - o caminho até à morte. E até quando vivenciamos a perda de um parente, é com nosso próprio passamento (ou "Passagem", como você verá noutra de nossas lendas urbanas!) que estamos, também, lidando. 

    E é a partir de palavras de um Outro, supostamente detentor de um poder sobre a vida e a morte - a medicina, a justiça, a psicologia, a educação física, a estatística, a epidemiologia, a religião, que vamos construir nossas próprias previsões sobre a morte - a expectativa estatística de vida, a expectativa própria, a partir de nossos comportamentos alimentares e de nossas relações com as drogas etc. Dessa "expectativa própria de vida" surgem, me parece, as mudanças de hábitos, a vida "fitness", assim como o orgulho pela vida curta garantida pelo colesterol alto, álcool, comportamentos perigosos. "Nesse ritmo, não! Não tem santo no céu e na terra que faça 'nois' chegar nos 80", diz a voz de um idoso, que se tornou meme na internet, e que está sempre ao fundo de vídeos gravados em ocasiões de "autodestruição programada", algo que me lembra a "obsolescência programada", que os smartphones parecem nos haver ensinado a usar como uma espécie de fantasia de poder sobre a nossa própria morte, já que, supostamente, a conseguiríamos prever quanto ao tempo, modo e circunstâncias. Vai vendo!

    O conto do "Eu vi" (o de Roteiro, não o da plagiadora Netflix! 😂) já começa enfatizando uma razão muito comum de angústia em Roteiro, assim como em todo o Brasil - o aluguel. "Cinco amigas estavam fazendo uma festa do pijama, em uma casa alugada". Além do motivo do aluguel, aparecem outros aspectos de uma angústia parecida, porque converge para o medo da pobreza - a "aparência sombria" proporcionada pela "pintura gasta da chuva". 

    Ora, em Roteiro é muito comum encontrar casas com esses aspecto, uma vez que mais de 50% da população da cidade vive (ou tenta viver) com uma renda igual ou inferior a meio salário mínimo - R$ 606. A média dos aluguéis cobrados para casas com essa "aparência sombria", ou seja, sem manutenção de pintura e, frequentemente, com estrutura inadequada, costuma variar entre R$ 200 e R$ 350. Isso representa quase metade da renda total da maior parte das famílias de Roteiro. O que resta para comer? Pois é! Isso não deixa de aparecer no conto, quando "duas das mais velhas se dispuseram a preparar um lanche noturno, enquanto as mais novas ficaram jogando Uno na sala". A questão que, para mim, permanece é: o que será que essas meninas foram preparar como lanche? O preparo de um lanche em casas tão pobres costuma demandar muita criatividade para inventar algo que agrade ao paladar, porque os ingredientes são escassos. Por isso, não me surpreende que uma das meninas desista da tarefa e vá se distrair jogando Uno. Eu falo porque já passei muito por isso... 3 horas da tarde, ou 10 da noite, estar reunido com a família e querer tomar um lanche, tendo, porém pouquíssimo dinheiro e quase nada na cozinha. A pobreza é um dos principais caminhos para a morte!

    Bom... a paralisia e o terror da expressão da menina que ficou sozinha na tarefa de preparar um lanche realmente me fazem pensar se o "Eu vi" não poderia ser, em alguma das "festas do pijama" de Roteiro, a falta de comida na cozinha; ou se não poderia ser a vergonha e a frustração de falar para as irmãs e amigas mais jovens que não tinha nada para comer. Por outro lado, tenho certeza que, nas cozinhas, muitas meninas de Roteiro, hoje, vivenciam cenas de terror e medo de morrer... de fome, de vergonha. 

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Pretos e supermercados


A vida de uma pessoa preta no Brasil não é lá coisa muito fácil. Vivemos num país cujo racismo estrutural o é por causa da insistência do poder público em não assumir sua histórica tolerância à animalização de pessoas de pele escura. Convenhamos que esse sintoma é também indício da continuidade desse crime cultural, patrimônio histórico da burguesia e item de colecionadores de classe média e C, sem esquecer dos compradores de réplicas falsificadas desse racismo, os racistas das classes D Etc.

Aliás, no Brasil, o racismo não é sintoma de nada. Ele é "sinthoma", mesmo! É algo que constitui e assujeita o sujeito Brasil, não apenas responde por parte de seu comportamento e de sua subjetividade. É um Insight que a obra lacaniana nos possibilita. Difícil ter insights não fúnebres quanto ao analisante Brasil, confesso!

Tudo começa na manjedoura. Pretos, das diferentes tonalidades, têm lugar predeterminado de nascimento - e não é na Ponta Verde ou no Farol, na Avenida Paulista ou no Leblon. Esses pretos, de tonalidades diferentes, todos sofrem racismo. Há apenas uma variação na intensidade, a depender do seu grau de familiaridade com os traços do preto africano - e essa variação precisa ser levada em consideração para os efeitos mais práticos do racismo e suas matizes.
O preto brasileiro cresce entrando de cabeça baixa no supermercado, com o "não" estampado na cara e engatilhado na ponta da língua do papai e da mamãe, pronto a disparar e conter o perigoso "mãe, compra iogurte?!". Há um lugar para o preto no Brasil, e não é o da realização de desejos. A adolescência das meninas e meninos pretos também decepcionaria qualquer sonhador. Não se encaixam nos padrões de beleza impostos pela indústria televisiva, cinematográfica; servem apenas como amantes, ficantes, raramente como maridos ou esposas de pessoas brancas por quem venham, por acaso, a se apaixonar.
Adultos, quando optam pelo esforço sobrehumano de se destacarem nas suas profissões (que, por jogo do destino, consigam desenvolver), continuam marcados pelo estereótipo do ladrão, suspeito, que obteve qualquer bem material por meio do roubo, do furto. Assim, o cuscuz, o frango, o leite, o iogurte que porta na cestinha do supermercado é motivo de atenção para os seguranças. É um fenômeno que carece esquema de segurança, de "prevenção de danos" - ao cuscuz, ao frango, ao leite, ao iogurte, à cesta. O segurança preto da guarita passa o rádio para o segurança preto do corredor. Um sinal e outro e, pronto, o esquema de escolta está montado. Se você for preto, verá, ao menos, 3 vezes o segurança, quando estiver percorrendo os corredores do "patrimônio do playboy", como dizem os Racionais MC's.
Acompanhado solenemente pelo feitor, sua ida ao supermercado num dia de folga vira um pesadelo. Tratado como criminoso em potencial, você é obrigado a disfarçar o seu "banditismo", passa a se comportar como um suspeito e, assim, retroalimenta a desconfiança incondicional dos investigadores de mercadinho. Quando não incorpora o fugitivo, você personifica Zumbi dos Palmares e, então, confronta os operadores do racismo, se impõe, rebate a violência sofrida, a elabora em palavras.
- Algum problema, irmão?! - pode o investigado exclamar, em tom de interrogatório... perdão! Interrogação*. É que a gente entra na personagem!
O preto pode ser mais direto:
- Não vou roubar nada, não, viu?! Não se preocupe. Você deveria se preocupar com o playboy que acabou de entrar ali...
O resto da vivência não dá pra escrever, só viVENDO.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Amor e álcool - Coluna Polis & Cia

Era mais um dia de domingo comum em Maceió, AL. Eu saí de casa paramentado pra um compromisso. No ponto de ônibus, chegou um rapaz, certamente mais velho que eu, com uma flanela e um borrifador com álcool.

- Rapaz, só eu vim trabalhar hoje?! Não tem um vendedor na rua! - Exclamou, sorridente, a mim e a outras poucas pessoas que estavam ali.
- Sim. Não tem muitos passageiros nos ônibus, dia de hoje - Respondi.
- Cara, você já ouviu falar num negócio chamado neoliberalismo? - Me perguntou, enquanto sentava-se.
- Sim. Com certeza! - Respondi, curioso.
- Eu tô lendo um capítulo de um livro que fala disso. O livro chama "Novo Enem". É de uma autora... esqueci o nome dela... Já ouviu falar?
- Não, não... - Respondi, tentando lembrar o nome de Naomi Klein, que poderia ser a autora a quem ele se referia.
- Deve ser bom, né? O "Novo" tá assim, entre aspas, aí, vem: "Enem e o dono da voz". - Explicou, demonstrando haver entendido alguma intenção irônica no título, mesmo que os sinais realmente aplicados sejam os colchetes.
- Sim. Deve ser bom. Nunca ouvi falar sobre esse livro. Você sabe de quando é? - Respondi e perguntei.
- Ele tá aqui na minha maleta. Deixa eu te mostrar! Eu achei esse livro no lixo, você acredita?
- Acredito!! - Respondi sarcasticamente, porque novidade seria ver um livro desses na estante de algum brasileiro.
- Esse livro, essa maleta... tudo, eu tirei do lixo... Porque eu sou capaz de meter a mão no lixo, mas não meto a mão no seu bolso pra tomar o que é seu. - Continuou.
- Tudo meu é achado no lixo, mas não pego do bolso de ninguém. - Repetiu em voz alta, para as outras pessoas ouvirem, demarcando seu lugar de fala como um trabalhador, honesto, dócil.

Ele, por algum motivo, desistiu de abrir a maleta. Talvez porque o ônibus que ele esperava poderia aparecer a qualquer momento e seria uma correria guardar de novo o livro enquanto embarcasse.
- As pessoas jogam tanta coisa boa fora! - Comentou.
- Concordei, com minha expressão, que foi interrompida pela prontidão a entrar no Eustáquio/Cruz das Almas/UFAL.

Ele pegou o mesmo ônibus.

Enquanto eu passava pela catraca, ele já se dirigia ao corredor do ônibus.

- Boa tarde, pessoal! Me chamo ******, sou morador de rua, vivo em Maceió há ** anos. Hoje, eu estou aqui cumprindo minha liberdade de expressão, prestando um serviço à população brasileira. Hoje, nós vivemos uma situação dessa pandemia e vou tá passando essa flanela com álcool 70 no ônibus, exercendo meu direito de cidadão. - Apresentou-se, mais ou menos com essas palavras, aparentemente empolgado pela relevância de seu trabalho.

Relevante demais!

Poucos dias antes, quando vi pela primeira vez um outro rapaz prestar esse serviço, comentei com meu irmão sobre a importância desse trabalho no contexto da pandemia. Nesse dia, cheguei a pensar que esse outro rapaz era um funcionário da empresa de viação. Mas, claro, estamos falando de neoliberalismo... Os cobradores (que são os cobradores!) estão sendo descartados em nome do aumento dos lucros e a adição de 2 passageiros em seu lugar, quê se dirá da contratação de qualquer funcionário?! Óbvio que aquele rapaz não era um funcionário da empresa de ônibus!

Pois bem... Depois de alegremente higienizar algumas partes do ônibus e as mãos dos passageiros, como um trabalhador que se orgulha da relevância de seu trabalho, o rapaz lá do ponto de ônibus sentou-se ao meu lado, borrifando álcool nas minhas mãos (e coxas, rsrs).

- Deixa eu te mostrar, aqui, a capa do livro, pra você depois pesquisar. - Disse-me, recebendo de mim uma das moedas daquele ônibus e abrindo a maleta.

Vi o livro.

"[Novo] Enem e o dono da voz", de Joana D'Arc Ferreira de Macêdo e Elione Maria Nogueira Diógenes (2014).

- Legal. Valeu! - Agradeci.

Ele desceu às pressas no antigo Hiper. Estávamos indo no sentido Cruz das Almas.
Me senti extremamente motivado pela inteligência e força de vontade daquele homem. Me alegrei, principalmente, pelo capítulo que ele iria começar a ler.

Provavelmente, ele já leu esse capítulo e, certamente, depois dessa leitura, muita coisa vai mudar no seu modo de agir e de ver o mundo, o trabalho, os conceitos de direitos e deveres, o conceito de trabalhador, cidadão... Ficará mais difícil para ele confundir "direito" e "dever" e ele entenderá o que, provavelmente, fez com que esse livro estivesse no lixo. O conhecimento trazido por esse livro (que, aliás, tenho a obrigação de ler!) dará mais ferramentas a esse cidadão que espalhou amor em forma de álcool naquele ônibus repleto de trabalhadoras descontentes com o "rodo cotidiano", parafraseando "O Rappa", com o troco "pouco, quase nada" da passagem.

Bom, pelo menos, é isso que eu espero do capítulo... e do leitor.

Especialmente naquele dia, eu estava ciente da gravidade do quadro do tio Fábio, na UTI Covid-19, em Arapiraca. Eu sabia que ele não sobreviveria à falta de amor, de compaixão, de patriotismo, de bom exemplo, de álcool 70, de máscara, de vacina. Sabia que ele não realizaria o seu desejo, comunicado a mim na nossa última conversa, de comprar uma moto de alta cilindrada e viajar o Brasil. Eu sabia que não teria mais a ocasião de dizer que ele estava certo sobre o conjunto de direção da minha moto.
Tudo isso me angustiava e revoltava nessa pequena viagem. Porque, afinal, o que parecia ser abundante nesse herói das ruas, tem saldo negativo no governo federal. Não existe, no Planalto, o que Freud chamaria pulsão de vida e o que Hannah Arendt chamou "amor mundi"... Faltou e falta o patriotismo desse rapaz, o seu amor pela vida.

Afinal...

"Um catador faz mais que o ministro do Meio Ambiente [etc.]".

Dedico ao amigo, agente de saúde autônomo e ambulante, a música "O bem", do grandioso Arlindo Cruz. 

Samuel Melo é um psicólogo e psicanalista, formado em psicologia na Universidade Federal de Alagoas. Preto, maceioense do Trapiche da Barra.

Anderson Samuel da Silva Melo - CRP-15/6004

Instagram: @samuelmeloal
WhatsApp: (82) 9 8810-7158

domingo, 25 de abril de 2021

Resultados da psicoterapia - Coluna Saúde-se

Na prática da clínica psicanalítica, está clara para o psicanalista a existência de duas categorias importantes para a direção do tratamento: 1) a dimensão do pensamento e 2) a do acontecimento. Elas não são criadas no consultório, nem, tampouco, só aparecem ali, mas fazem parte da nossa experiência de vida. No cotidiano e ao longo de nossas histórias pessoais, apenas uma parte muito pequena dos acontecimentos é percebida por nossa consciência e processada em forma de pensamento. Assim, já se pode perceber, de acordo com essa hipótese, que não estamos, definitivamente, no controle absoluto das situações. Demais disto, a parte muito pequena dos acontecimentos sobre a qual nós ainda temos alguma participação e possibilidade de relativo controle, sofre com a imprevisibilidade do acaso e a ação de motivos inconscientes que reivindicam para si autoria nas decisões e rumos que tomamos.

"O Eu não é senhor em sua própria casa", já nos disse Freud. Se é que a "casa" - o corpo, os pensamentos, os afetos - é mesmo do Eu - essa entidade que percebe, pensa, quer, deseja e que permite que um certo Samuel escreva um texto falando sobre resultados de uma psicoterapia.
Uma vez reconhecida essa dimensão do acontecimento inconsciente, que independe do pensamento e da consciência, falemos um pouco sobre como isso fornece material de compreensão para nós, analistas, conduzirmos os casos que atendemos. Lembrando que o "acontecimento inconsciente" seria algo como o representante humano da dimensão da natureza e seus acontecimentos até então inevitáveis e incontroláveis - e aqui não estão incluídos, é claro, aqueles eventos sabidamente relacionados com mudanças climáticas decorrentes da ação humana.

Durante algum tempo, durante o meu período de estágio em psicologia, atendi uma pessoa que parecia não dar a mínima para o que eu lhe falava... A pessoa parecia muito mais preocupada em descarregar tudo o que nunca falou para ninguém em sua vida, sem enxergar necessidade ou sem querer ouvir qualquer palavra proferida por mim, como analista.

- E agora? - pensei, por semanas.

O trabalho do analista se dá, exatamente, através da interpretação do que ouve e do ato analítico, que, muitas vezes, é praticado através da palavra do profissional. O que eu iria fazer, então? Parecia que o meu trabalho ali estava sendo feito em vão.

Mas, com o passar do tempo, no ritmo da minha curiosidade e angústia, por querer desenvolver um trabalho adequado, fui percebendo que algo acontecia na experiência daquela pessoa... Mudanças ao nível do seu comportamento e do direcionamento de sua atenção - ela passava, a cada semana, a me falar sobre coisas que decidia fazer e deixar de fazer, que lhe distanciavam do rumo autodestrutivo que até então seguia; falava sobre como refletia a respeito de suas avaliações dos acontecimentos de sua vida, aproximando-se, cada vez mais, de soluções pautadas na preservação de sua vida e de seu bem-estar. A psicoterapia estava surtindo, justamente, os efeitos que eu buscava com minhas intervenções.

O que aconteceu?

Bom, eu percebi que, na prática, diante de mim estava uma pessoa, como qualquer outra, "dividida", no sentido freudiano e lacaniano do termo... Uma pessoa dividida ao meio... Metade consciente, metade inconsciente.

A consciência daquela pessoa poderia até não me dar ouvidos (não posso dizer que se tratasse disso!), mas seu inconsciente, com sua memória infalível, estava atento ao que um jovem novato da psicanálise falava. O inconsciente daquela pessoa estava, a cada sessão e a cada dia, dentro e fora daquele consultório ensolarado da clínica-escola, se apropriando e integrando em seu curso de palavras, as curtas frases que eu gotejava naquela esteira de significantes que passava diante de mim uma vez por semana.

Poderia ser que aquela pessoa sequer pensasse sobre o que eu falava, mas minhas intervenções produziam efeitos ao nível dos acontecimentos, sem dúvida! Considerando a hipótese de ela mesma não perceber tais resultados (o que não foi o caso!), ainda assim, eu poderia reconhecê-los como resultados positivos, de um ponto de vista técnico, considerando os objetivos gerais de uma análise, ou seja,  mitigar o sofrimento e impulsionar o sujeito para longe da pulsão de morte e para perto da pulsão de vida.

Creio que lhes apresentei um bom exemplo do que são essas duas dimensões importantes na clínica - o pensamento e o acontecimento; e que pude esclarecer algo sobre os resultados de uma análise/psicoterapia.

Na clínica, as coisas não somente são ouvidas ou faladas.
Na clínica, as coisas acontecem!

Samuel Melo é um psicólogo e psicanalista maceioense, preto; formado em psicologia pela Universidade Federal de Alagoas (2020), ex-estagiário do Serviço de Psicologia Aplicada do Instituto de Psicologia da UFAL.

Instagram: @samuelmeloal
Anderson Samuel da Silva Melo - CRP 15/6004