quarta-feira, 29 de abril de 2020

E se os fabricantes caseiros de máscaras e sabão salvarem o país da crise? Coluna "E se..."

A pandemia do novo Coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda, Sars-Cov-2, na sigla em inglês, causador da "doença do Coronavírus 2019", Covid-19, também na sigla inglesa, criou um novo tipo de empreendedor, pelo menos no Brasil: as/os fabricantes caseira/os de máscaras em tecido, equipamento importante para a contenção do surto desse vírus, como alguns estudos nacionais e internacionais têm referenciado [1]. Como sempre, diante das dificuldades, surgiram aqueles que têm o talento de somar criatividade + rentabilidade + utilidade pública.

Que essas pessoas são talentosas todos sabemos. Mas e se os governos (municipais, estaduais, distrital e federal), articulados, investissem nesses empreendedores?

Bom, se isso acontecesse, acredito que teríamos, nós, os brasileiros, um ganho, pelo menos, triplo: 1) aumento da distribuição de máscaras para a população, já que a tia (ou tio) do "ap" e "da casa ao lado" teria máscaras à venda, dispensando a necessidade de o vizinho pegar ônibus pra ir comprar o Equipamento de Proteção Individual que, na verdade, acaba trazendo um benefício coletivo à medida que diminui a transmissibilidade do vírus; 2) aumento da renda desses empreendedores, gerando circulação desse dinheiro no país e; 3) diminuição da necessidade de compra de máscaras do exterior, o que custa mais caro e é mais demorado.

Outra ideia talvez seja exequível no contexto dessa pandemia: e se os mesmos governos investissem na produção e distribuição caseira de sabão nas comunidades mais pobres? Ora, aqui também surgem outra/os empreendedora/os: as pessoas que, a partir do "óleo de cozinha" residual, aquele que já foi utilizado em frituras, produzem sabão, importante agente de desinfecção do Coronavírus. Os governos uniriam esforços para entregar luvas, máscaras (estas, inclusive, talvez compradas das "tias" e "tios" costureira/os de quem já falei), "soda cáustica" e óleo de cozinha (coletado das residências, talvez até comprados dessas residências). Os benefícios disso? Bem, podemos "dar um Ctrl + C, Ctrl + V" do que dissemos acima sobre as máscaras.

Lembro-me de quando, em 2012, ainda no ensino médio, alguns colegas, professores [2] e eu pensamos e construímos um projeto de coleta de óleos residuais para produção de sabão na cidade de Teotônio Vilela, na Zona da Mata alagoana. Era o projeto "Acrol", uma cooperativa cujas criação e funcionamento se mostraram possíveis, embora, da minha parte, pelo advento das demandas acadêmicas da universidade e mudança para a capital, acabou não saindo do papel.


É evidente que as ideias tratadas acima não "salvariam" o país das atuais crises, mas, na minha percepção, sanariam uma parte importante dos atuais problemas que nós, e sobretudo os mais pobres, enfrentamos. Trata-se, portanto, mais de ideias a serem consideradas, estudadas e, por fim, adotadas ou não.

Pense: e se cada um dos cerca de 200 milhões de brasileiros tiver duas ideias a oferecer ao governo para combater a Covid-19 de forma integrada e econômica, quantas ideias teremos à mesa? Quantos empregos e atividades rentáveis vamos gerar/incentivar? Faça as contas!

- Samuel Melo é natural de Maceió, preto, psicanalista, formado em psicologia pela Universidade Federal de Alagoas.

Currículo: http://lattes.cnpq.br/3326945607744321


Referência e nota


[1] http://covid19br.org/relatorios/nota-tecnica-04-uso-de-mascaras-de-tecido-em-locais-publicos-frente-a-covid-19/

[2] Alguns professores da Escola Estadual de Educação Básica e Profissional José Aprígio Brandão Vilela, onde me formei técnico em biocombustíveis, em 2012.